Amor Demais - Capítulo 88

Vi Sophia descendo a escada com lagrimas nos olhos e então soltei Laura e corri para ampara-la. – O que foi amor?

- Ele tá tão mal, Mica. – Sua voz completamente alterada pelo choro, ela me apertou ainda mais.
- Ele vai sair dessa, amor. – Tentei conforta-la. Antes que ela me respondesse, nós ouvimos os passos da minha adorável sogra.
- Você foi atrás de mim por causa de dinheiro né? – Soph acusou e eu fiquei sem entender.
- Logico que não, filha! – Apressou-se em dizer.
- Você não aprende nunca mesmo! – Ela disse a mãe sem ao menos separar seu corpo do meu.
- Eu fui atrás de você porque seu pai queria te reencontrar antes de... – Ela não terminou a frase. – Não tem merda nenhuma a ver com a droga do seu dinheiro. – Branca berrou e Sophia chorou ainda mais. Mas por que será que estão debatendo por dinheiro? Obviamente eles tem condições boas.
- Não vou deixar meu pai morrer, mãe. – Sophia se soltou e apenas me segurou de lado. – Nós vamos ligar para o hospital agora mesmo e encaminhar ele para uma bateria de exames, pra então tomarmos as medidas necessárias.
- Sophia... – Ela começou a falar, mas Sophia ergueu a mão.
- Liga de uma vez. – Disse grossa e então Branca assentiu, saindo da sala. Minha branquinha me abraçou de novo e manteve a cabeça em meu peito.
- Vai ficar tudo bem! – Eu disse após dar um beijo em sua cabeça.
- Ele está irreconhecível. – Ela falou com a voz embargada por emoção. – Não posso deixar nada acontecer com ele, Micael.
- Ei, calma. – Me afastei um pouco e ergui sua cabeça para olhar em seus olhos. – Nós vamos ajudar o seu pai, sabe disso.
- Obrigada por não ser contra isso. – Eu sequei algumas lagrimas em seu rosto, mas era em vão.
- Eu não seria contra, é o seu pai!
- Eu sei, mas eles sempre te trataram tão mal e... – Antes que ela terminasse, eu a interrompi.
- Não tem “e”. Eu amo você e vou apoiar suas decisões. – Ela sorriu e eu a abracei novamente. Eu a sentei no sofá, Laura se sentou com ela. Sophia estava muito desgastada. Branca apareceu dizendo que já tinha ligado e que em breve uma ambulância ia aparecer para leva-lo. Ela ficou na sala com a gente, mas o clima era péssimo. Laura ficou vendo televisão e eu fui arrumar algo na cozinha pra Sophia comer, mesmo que ela não quisesse.
- Você não devia ter mandando o Micael me fazer o que comer. – Disse brava. Queria os braços dele aqui em volta de mim.
- Preciso conversar com você. – Ela deu de ombros. – Acho que ele entendeu isso, por isso que foi.
- Eu não quero conversar com você. – Disse rude e Laura nos olhou.
- Sophia, por favor, vamos ali na varanda... – Ela pediu e se levantou. Eu fui, contrariando todos os meus instintos. – Filha, eu quero agradecer o que está fazendo pelo seu pai.
- Mãe, não estou fazendo nada disso por você. – Fui grossa e ela se encolheu um pouco.
- Filha, nós não vamos conseguir conversar direito? – Eu rolei os olhos
- Você nunca nem se importou comigo, quer conversar agora por quê? Do nada deu saudades? – Fui ignorante e ela arregalou os olhos. Por um breve momento eu senti que ela estava pensando se me contava ou não alguma coisa.
- Eu sempre me preocupei com você, a vida toda! – Seu tom era forte, mas ela não gritava.
- Ah, claro. Nas suas orações antes de dormir? – Debochei.
- Não, Sophia. Eu sempre ajudei você, mesmo de longe. – Ela deu de ombros e eu bufei, claramente irritada.
- Claro que não, você nunca quis saber de mim, você não foi ao meu casamento, você não conheceu sua neta!
- Assim que você escolheu sair de casa e ir atrás do seu namorado, eu fui um dia em que você estava na escola conversar com a mãe dele.
- E como você sabia quem era a mãe dele e onde ela morava? – Cruzei os braços e perguntei incrédula.
- Seu pai era da policia, Sophia. – Falou como se fosse obvio. – Parece até que você não sabe que ele tem meios de descobrir.
- Ok, mãe. Vamos supor que você fez isso, o que foi conversar com a Dona Antônia? – Disse já sem paciência.
- Fui pedir a ela que cuidasse de você, ela disse que faria isso com certeza, porque sempre achou você uma boa menina. – Eu sorri. – Ai que combinei com ela uma quantia mensal pra ajudar nos seus gastos.
- O quê? – Eu me irritei.
- Eu depositava na conta da Antônia uma ajuda pra você. Pedi a ela que não te contasse, sabia a raiva que você estava de mim.
- Isso não faz sentido. – Eu estava claramente confusa, me sentei na mureta com as mãos na cabeça. – Eu sempre trabalhei numa maldita lanchonete..
- Quando você começou a trabalhar naquela espelunca, logo depois de terminar a escola, a Antônia disse pra mim que queria ajudar em casa. Eu disse a ela pra não aceitar o seu dinheiro, pra incentivar você e seu namorado a comprarem um terreno e então começarem a construir uma casa pra vocês. Antônia sempre me contava as novidades sobre você.
- Eu não estou acreditando nisso! – Bufei.
- Pedi até a Antônia que perguntasse a você qual faculdade você iria querer, para que eu pudesse pagar. – Ela deu de ombros como se fosse a coisa mais normal na vida.
- Ela me perguntou isso mesmo. – Eu comecei a chorar novamente, minha mãe era uma pessoa totalmente diferente do que eu achava. – Por que você não simplesmente apareceu e conversou comigo?
- Eu sou orgulhosa, Sophia. Tanto quanto você. – Se sentou ao meu lado. – Eu amo você, sempre me preocupei com você. Mas eu não iria pedir desculpas e te chamar de volta enquanto você não quebrasse a cara com aquele rapaz.
- Só que eu não quebrei mãe. – Eu a encarei. – Você sempre achou que o Micael ia ser um ninguém, que ele não ia ter futuro. Mas ele sempre trabalhou pra conseguir dar tudo de bom pra mim e pra Laura.
- Eu sei, eu via e a Antônia me contava. – Deu de ombros. – Quando eu soube que você estava gravida eu fiquei ainda com mais raiva por você ser tão irresponsável. Você tinha dito, aos dezessete anos, que não ia fazer faculdade por que queria ser modelo, com dezoito você engravidou! – Ela bufou e eu soltei um sorrisinho.
- Foi a época mais difícil da minha vida, eu precisava de você. Eu não sabia ser mãe.
- Eu imagino. Eu sei que aconteceu e o Micael não tinha um emprego. Ele ia arrumar, mas a mãe dele disse que não precisava que ela ia ajudar vocês, que o mais importante era que ele se formasse pra conseguir ser alguém, se lembra disso? – Perguntou e eu apenas assenti. – Era que tinha feito esse pedido. Pedi a ela que não deixasse que ele parasse os estudos e o estagio. Eu disse a ela que assumiria todos os gastos da Laura até que ele tivesse condições de cuidar de vocês...
Eu estava boquiaberta, não sabia o que pensar. Minha mãe tinha estado presente todo esse tempo pra mim, mesmo que indiretamente. Isso era improvável. Eu olhava pra qualquer canto, menos pra ela, era muito pra processar. Ficamos em um silencio interminável, eu não tinha palavras, então uma coisa me ocorreu.
- Quer dizer que a senhora conheceu a Laura então?
- Sim, eu fui ao hospital com seu pai quando ela nasceu. Eu ia no seu quarto, mas ele achou melhor não. Também vi minha neta algumas vezes quando você deixada ela com Antônia pra fazer alguma coisa. Mas ela era muito novinha pra se lembrar de mim.
- Meu Deus...
- Só parei de ajudar quando você e seu marido se casaram e se mudaram. Laurinha tinha quase três anos, vocês tinham conseguido construir a casinha de vocês e tinham casado. Você estava tão linda no seu casamento!
- Você foi? – Perguntei incrédula com olhos arregalados.
- Não, Antônia me mostrou fotos mesmo. – Ela sorriu.
- Então quer dizer que você e minha sogra são grandes amigas? – Ergui uma sobrancelha e ela riu.
- Basicamente isso, nós nos falamos até hoje. Logicamente com menos frequência, mas a gente se da bem.
- Isso tudo é muito bizarro. – Neguei com a cabeça. – Quando eu viajei...

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